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                                                                                                                                           Por: Ervino Luis Vivian

 
MIGRAÇÃO ITALIANA
Nossa história - Da Itália para o Brasil 
1 – Por que emigrar?
 
      Na segunda metade do século dezenove ocorreram, na Itália, duas situações que afetaram a vida da população que sobrevivia do trabalho braçal:
      A primeira foi a descoberta e aplicação da energia mecânica – máquina a vapor – na indústria com a dispensa e superação da energia muscular. A produção em maior escala e mais barata eliminou o artesanato, que era o sustento de muitas famílias e não conseguiu absorver a mão de obra dos artesãos. A concorrência deixou uma multidão de mão de obra braçal sem sustento.
    A segunda situação foi a unificação política das diversas províncias. O governo monárquico, também pelas ideologias subjacentes, não foi capaz de criar uma ordem social que resgatasse os desocupados. Na agricultura, grande parte dos trabalhadores era de arrendatários de proprietários poderosos no regime de “à meia” - portanto, renda escassa para o trabalhador com “muitos dependentes que comiam e poucos que ganhavam”. (Tanti que manha e pochi que guadanha)
     Diante da situação, o dilema era passar fome, ou “roubar, ou migrar” para países onde a indústria necessitava de mão de obra, como os Estados Unidos, ou houvesse terra para cultivar, como no Brasil.
 
 
2 - Possibilidades
 
     Na mesma época, no Brasil acontecia o movimento abolicionista da escravatura e os fazendeiros do café necessitavam de mão de obra agrícola. Além disso, o imperador D. Pedro II desejava ocupar vácuos habitacionais no Sul e “branquear” a população trazendo imigrantes da Europa. Os Estados Unidos requisitavam mão de obra para a indústria. Consequência foi a migração de grandes levas, atraídas pela propaganda de agenciadores, para os Estados Unidos (“fare la Mérica”) e  para o Brasil.
 
     Entre os anos 1876 e 1905 saíram da Itália 7.861.000 habitantes, dos quais 1.014.000 vieram para o Brasil, provenientes principalmente da região norte. Eram agricultores de profissão. Dirigiram-se para os estados do Espírito Santo, São Paulo - como empregados nas fazendas, substituindo os escravos -, e para S. Catarina e Rio Grande do Sul - como colonos, para ocupar o vazio habitacional na região agrícola da serra. A região plana já estava ocupada pela imigração alemã chegada 25 anos antes.
 
     Depois de penosa viagem de trem e navio apinhado, durante mais de um mês, com a dor de separar-se dos parentes e abandonar sua pátria, que só lhes exigia impostos e serviço militar, cansados e esperançosos aportavam em terra desconhecida, dispostos à aventura com a finalidade de ganhar um sustento para si e família.
 
 
3 – Na nova terra
 
     No Rio Grande do Sul, o governo criou núcleos coloniais onde colocava as famílias imigrantes, depois de acolhê-las provisoriamente em barracões-hospedaria. Cada família recebia uma colônia (25 hectares), com financiamento facilitado, mais algumas ferramentas, sementes e provisão para seis meses.
 
     Cada família se instalava na sua colônia ocupada por floresta, devendo abrir uma clareira, construir sua casa – geralmente um rancho – perto de alguma fonte, desmatar, preparar o solo e plantar. A cada duas colônias, unidas pelos fundos, passava uma picada – linha – que servia de única estrada.
 
     Não havia comunicações, nem médicos, nem farmácia (muitas eram as mortes, em especial de crianças), nem comércio, nem igrejas. (Se vivea e se morria come le bestie).   
 
 
4 – Soluções
 
     No isolamento, as famílias sentiam a necessidade de solidariedade, de algum convívio, de prover serviços. Sendo todos de religião católica, nos domingos iniciaram algum encontro para uma reza em comum – o terço -, liderados por alguma família mais fervorosa.
 
   Criaram relacionamentos, partilharam as dificuldades. Quem possuía alguma habilidade foi se prontificando em auxiliar, pois possuíam conhecimentos práticos em realizar trabalhos de carpintaria, ferraria, agricultura, pequenas indústrias, comércio.  Foram construindo casas com a madeira abundante do desmatamento, abrindo roças, criando animais bovinos, equinos, suínos, aves, montando moinho em alguma queda de água.
 
    Para vivenciar a religião e transmitir instrução para as crianças, foram formando comunidades, primeiro em casa de um líder e depois em pequenos capitéis, oferecendo também algum lazer.  A carência comum estimulava a solidariedade. A vivência da fé católica sentia a carência de algum sacerdote. Apelaram para a pátria Itália. Um bispo, João Batista Scalabrini, sensível ao drama dos emigrados, além de conscientizar o povo e o governo italianos, arregimentou sacerdotes dispostos a partilhar as agruras do exílio para fortificar a fé dos compatriotas.
 
     Os missionários percorriam as colônias em longas cavalgadas levando o conforto da fé e o sorriso da pátria, falando a mesma língua. Assim formaram núcleos – capelas – e vilas onde se disponibilizavam serviços mais urgentes para a religião, saúde, de artesãos, comerciantes.
 
 
5 – Progresso
 
    Com o andar dos anos veio a produção agrícola para o sustento e alguma sobra para comercializar. Isso animava os migrados na satisfação de serem proprietários de uma extensão de terra só deles. Portanto, já tinham a satisfação de não precisar mais dividir a colheita com o patrão, como acontecia na Itália e de possuir cavalgadura (come el paron). Podiam prever melhores condições para os filhos sempre numerosos (far par i fioi).
 
     Aos poucos, o bem-estar progredia com alimentação de cereais, carnes e bebidas – vinho - sempre elaboradas em casa. Era a consolação das grandes fadigas e sofrimentos físicos e sentimentais suportados em vista do bem da família.
 
      Foram adquirindo novas áreas para colocar os filhos (que migrando do Rio Grande para o oeste de Santa Catarina e Paraná repetiram a epopeia), melhoraram os serviços, os transportes e fizeram florescer o jardim da Serra Gaúcha com sua pujante indústria vinícola, metalúrgica e alimentícia - tanto que os atuais habitantes nem imaginam e nem valorizam as agruras suportadas com valentia pelos ancestrais pioneiros.
 
 
6 – Nossa festa
 
     Relembrar é valorizar, é ser agradecido a quem se sacrificou com fé e amor. Nosso progresso e conforto são devidos ao suor e sofrimento dos que prepararam, isto é, nossos avós, as conquistas de que hoje nos ufanamos.
 
Celebrar é agradecer. 
 
 
 
Bibliografia
 
 
Para os que se interessarem em aprofundar os conhecimentos sobre a imigração italiana e de outras nacionalidades
no Rio Grande do Sul (e do Brasil em geral), deixamos abaixo a relação de algumas obras:
 
 
Cartas de Imigrantes
 
de Roger Stoltz – 1ª edição 1997
 
Suliani Editografia Ltda
 
Rua Veríssimo Rosa, 311 – Porto Alegre
 
 
Semblantes de Pioneiros
 
De Fidelis Dalcin Barbosa
 
Suliani Editografia Ltda
 
Rua Veríssimo Rosa, 311 – Porto Alegre                                                                                                                   
 
 
1875-2005 "Cultura Italiana 130 Anos"
 
"Cultura Italiana 130 Anni" Organização Antônio Suliani e Frei Rovilho Costa
 
Edição Bilíngue Porto Alegre- Editora Nova Prova 2005 -340 p.: il; Textos Português e Italiano.
 
 
História da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul 
 
Loraine Slomp Giron e Vania Herédia Edições EST Porto Alegre 2007.
 
 
"Origem" 180 anos da Imigração Alemã em Santa Catarina"
 
Edição Geral -Diógenes Fischer - Editora Empreendedor -Instituto RECRIAR - Santa Catarina
 
 
"Retratos da colônia"
 
2ª Edição - Arlindo Itacir Battistel - Editora Est. 
 
 
www.esteditora.com.br
 
 
EST Edições
 
 
 

 

 

 

 

 

 Museu do Imigrante - SP

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